“Quando o cidadão descobre que ele é o princípio do que existe e pode existir com sua participação, começa a surgir a democracia.”
Publicado em 2/04/2012
A reunião anual de planejamento de atividades do Comitê Elos recebeu colaboradores, parceiros e convidados para debater um tema comum a quem atua hoje nos movimentos sociais: “Nas décadas de 60, 70 e 80, a maioria dos brasileiros sentia vontade de lutar por um país melhor. Isso se perdeu? É possível resgatar esse desejo?”
O encontro aconteceu no CCBB, no dia 31/03, reunindo 41 pessoas para refletir sobre as experiências de quem participou das lutas nos anos de grande mobilização do movimento social e daqueles que estão hoje à frente de entidades comprometidas com a organização de suas comunidades.
Apesar do novo contexto político, econômico e social e das diferentes visões de como atuar dentro dele, todos concordaram que os problemas sociais ainda estão longe de estarem resolvidos no Brasil e isso é o que nos motiva a continuar trabalhando de forma organizada em nossas instituições. O desafio é encontrar novas formas de mobilizar pessoas, mantendo a autonomia em relação a governos e partidos políticos e não esmorecer diante das dificuldades. Como resumiu D. Teresinha, liderança de muitas lutas em Nova Iguaçu: “Eu não aprendi a palavra não: ‘não dá’, ‘não posso’. A palavra que eu aprendi desde o berço é: ‘eu posso’!”
A primeira parte da reunião de planejamento foi dedicada ao debate deste tema, começando pela palestra da Professora Joana D’arc Fernandes Ferraz, membro do grupo Tortura Nunca Mais. Ela não acredita na desmobilização social, pois os trabalhadores continuam lutando contra a opressão em diversos países e cidades do Brasil, mas esses movimentos não ganham visibilidade na mídia. As lideranças das entidades parceiras do Comitê deram seus depoimentos sobre a experiência que viveram no período dos movimentos de bairro, na década de 70: D. Terezinha e Mônica, no MAB de Nova Iguaçu, Luiza, no movimento pela moradia, em Anchieta e D. Terezinha, na organização dos moradores da Cidade de Deus.
Sobre as experiências atuais de mobilização, o Professor Antonio Carlos contou a história da formação da Biblioteca Comunitária Solano Trindade, no bairro do Cangulo, em Duque de Caxias, hoje uma referência cultural da Baixada Fluminense. Para ele, a Solano Trindade tem uma história positiva de mobilização porque atendeu a um anseio da comunidade de ser reconhecida e respeitada e se mantem como um espaço genuinamente popular e local. O trabalho não ficou isolado, pelo contrário, foi se articulando com outros grupos e ocupando os espaços institucionais, dando visibilidade às ações da Biblioteca, que hoje tem apoio de programas das três esferas de governo: federal, estadual e municipal.
O colaborador da organização social Com Causa, Ewerson Claudio, também compartilhou sua experiência de mobilização através da articulação de ações culturais, sociais e de conscientização política que dão voz à diversidade social da Baixada. Como a Biblioteca Solano Trindade, a Com Causa investe na visibilidade da luta social, aproveitando as oportunidades oferecidas pelas políticas públicas para ampliar e consolidar seu trabalho. A organização é um Ponto de Cultura, programa de apoio financeiro dos governos federal e estadual para entidades que contribuem para a difusão e a democratização culturais.
Na segunda etapa da reunião, foram formados quatro grupos de trabalho com o desafio de propor ações práticas para mobilizar pessoas da comunidade para o trabalho nas associações. A última parte da reunião foi dedicada à avaliação das atividades de 2011, que apresentou resultados positivos, destacando-se os recursos obtidos para deslanchar o projeto Catadores Cidadãos, com a compra de equipamentos para o galpão de reciclagem e a capacitação dos catadores, passos importantes para a organização futura como cooperativa. Para 2012, precisamos ampliar o quadro de voluntários e de colaboradores, buscar recursos para organizar a produção e comercialização dos produtos do grupo de costureiras Comunidades em Rede, ampliar as atividades culturais e educacionais nas bibliotecas e reativar o telecentro da Estação Digital, em Nova Iguaçu, dentre outros projetos, para os quais contamos com a energia e a colaboração de todos.