“Quando o cidadão descobre que ele é o princípio do que existe e pode existir com sua participação, começa a surgir a democracia.”

Herbert de Souza, Betinho

Publicado em 3/04/2019

Encontro Anual destaca importância do trabalho coletivo e da participação popular

Ações coletivas e solidárias dão sentido as nossas vidas. Em torno desse tema aconteceu o Encontro Anual do Comitê Elos, no último sábado de março, no auditório do CCBB.  Mais uma vez reunimos representantes dos projetos apoiados, das instituições parceiras, colaboradores e amigos para um dia de conversa, trocas e planejamento de nossas ações.

Os três convidados para o bate-papo na parte da manhã estavam bem alinhados com o tema do Encontro por suas vivências nos movimentos de favelas, mulheres e agroecologia. Fellipe dos Anjos, secretário da FAFERJ – Federação das Associações de Favelas do RJ e membro do movimento Favelas pela Democracia, falou do histórico de conquistas da instituição e dos desafios e dificuldades que enfrenta a organização comunitária atualmente. O legado de lutas do movimento comunitário se confronta com a desmobilização nas comunidades e o desinteresse da juventude nas instituições. Fellipe lembra que a democracia em risco para todos atualmente, nunca existiu plenamente nas favelas. E não vê outro caminho para a mudança que não passe pela participação política. Em sua área de atuação, destaca a importância de ocupar os conselhos de participação popular, espaços de controle da sociedade e também de resistência para garantia de direitos.

Também na luta por ocupar espaços, vem da cultura a experiência de Giordana Moreira, feminista, produtora cultural, idealizadora de um coletivo cultural de mulheres, o Roque Pense. Ela afirma que cultura é política, ainda mais se feita em territórios populares, como prefere chamar a periferia, eliminado a ideia de que estão à margem de um centro mais importante, click here to find more. “Fazer arte na Baixada Fluminense é transgressão, é desafiar a perspectiva comum de aquele território não é lugar de arte”, afirma.  A cultura tem o poder de se contrapor ao estigma de violência e miséria, reforçando a autoestima e a identificação positiva do lugar. A Baixada Fluminense  tem uma “rede afetiva de grupos culturais” que vem se organizando desde os anos 90 e hoje é um polo de produção de cultura do RJ.

Giordana organizou um coletivo de mulheres para serem protagonistas em espaços reservados aos homens: os bastidores e os palcos de shows de rock. Para ela, a militância cultural e feminista é revolucionária: imagine o que é dar a uma jovem a possibilidade de escolher um futuro diferente daquele traçado para a maioria das mulheres ao seu redor: maternidade precoce, casamento e igreja.

Ela também destacou a participação dos jovens, falando de sua  potência, do seu empoderamento de direitos e das novas formas de participação política que não se adequam aos modelos institucionais. Giordana também concorda que é preciso juntar a potência dos coletivos de jovens com o legado das instituições sociais, mas que isso só pode ser feito em diálogo, todos juntos.

Da política feita nas instituições e nos coletivos culturais passamos à que diz respeito a nossa saúde. “Comer é um ato político”, nos lembrou Luísa Ferrer, do programa de agricultura urbana e familiar da Ong Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa – ASPTA. Com ela, aprendemos sobre agroecologia e agricultura urbana alternativa, que vai muito além de alimento orgânico sem agrotóxico. Luísa explica que se trata de uma opção de alimentação que envolve consciência social e trabalho coletivo, leva em conta a diversidade alimentar (uso de vários tipos de alimentos), a segurança alimentar e a independência dos grandes produtores e distribuidores.

A Ong em que trabalha dá apoio a pequenos produtores urbanos, articulando comunidades de produtores e pontos de venda. Organiza feiras, que são espaços privilegiados para troca, experiência e conhecimento entre os produtores e os consumidores. Também dá apoio na implantação de hortas comunitárias na cidade do Rio de Janeiro. Fazem ainda um trabalho de resgate da memória alimentar, pois a cidade está cheia de gente que veio do interior e se lembra de produtos que consumia com frequência e desapareceram das nossas mesas.

Após essa roda de conversa diversificada e estimulante, fizemos um lanche com cardápio natural e delicioso da Oficina do Pão, grupo de geração de renda de Duque de Caxias. Em seguida, fomos surpreendidos com a apresentação de um esquete teatral. Alessandro, Gabriel e Edson, do grupo Cor do Brasil do Centro de Teatro do Oprimido, encenaram um trecho da peça “Suspeito”, que reflete sobre o racismo em nossa sociedade.

Na parte da tarde, what to do, passamos ao momento de avaliação e planejamento, como apresentação das atividades realizadas nos projetos apoiados e a discussão em grupos de temas para nortear o planejamento do Comitê Elos para este ano de 2019.

Registramos nossos agradecimentos à equipe da GEPES – Gerência de Pessoal do Banco do Brasil no Rio de Janeiro, por mais essa colaboração na cessão das instalações e apoio de pessoal para organização do espaço. Também somos gratos aos 3 convidados do debate, que compartilharam seu tempo e experiência conosco e ao grupo do Centro de Teatro do Oprimido que nos fez refletir pela arte.

Tivemos mais um Encontro de aprendizagens e trocas, bem produtivo e motivador para os desafios da participação popular nos tempos atuais. Destacamos as palavras de nossa convidada Giordana: “Só o trabalho coletivo pode levar a um futuro melhor”. Seguimos juntos porque ninguém solta a mão de ninguém!

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